Pela manhã, eu e Susana fomos ao Mercado Público
para as compras da semana. Lá,

nos distraímos com: 1. as poças d'água e nossa
nenhuma lembrança de chuva recente; 2. os pedintes

e aqueles que nós julgávamos pedintes; 3. Dona Júlia,
que estava doente, segundo seu filho; 4. um rato

morto, que punha em xeque os selos de inspeção
e nossa curiosidade mórbida; 5. o limite de

nosso interesse em contar distrações; 6. o uso
da palavra “pedinte” num poema mal escrito de

um autor autoindulgente; 7. mandar lembranças
para Dona Júlia, quando (ou se) passarmos por lá na volta;

8. a delimitação do conceito de “distração” para
o caso de uma possível arguição; 9. as poças d'água, de novo,

e analogias com arquipélago ou trincheiras; 10. o uso
da primeira pessoa do plural num poema

mal escrito de um autor autoindulgente, especialmente
por envolver o nome de Susana; 11. a imagem que

construímos do Mercado Público por meio de
“poças d'água”, “pedintes” e “rato morto”; 12. o fato

de Dona Júlia nunca aparecer num poema que escrevemos;
13. o fato de o Mercado Público nunca aparecer

num poema que escrevemos; 14. o fato de o Mercado
Público daqui ser uma merda, o que não acontece

em outras cidades; 15. a possibilidade de as distrações,
a partir do momento em que são organizadas em lista,

se transformarem em outra coisa. Quando chegamos em casa
tínhamos comida para o resto da semana (como previsto).

Um comentário:

Bruno Neiva disse...

incursão no quotidiano?
gostei muito Tazio!

o prosaísmo como fazer poético (nem todo o fazer é barroco, nem todo o prosaísmo é espontâneo, mitos da cultura e da dita contra).

um abraço.

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